Na manhã desta quinta-feira, 24 de julho de 2014, por volta das 10h da manhã, quando um coletivo da linha 930-ICUI-Pte.Vargas chegava ao final da linha no bairro do Icuí, motorista e cobrador do veículo 930.17 foram abordados por dois elementos em uma moto, um continuou na moto aguardando o outro, que seguiu em direção ao coletivo, abordando motorista e cobrador, e exigiu que o cobrador Jones Siqueira, de 27 anos, entregasse toda a renda do coletivo. O cobrador, QUE NÃO REAGIU, entregou toda a renda e o aparelho celular, e após isso foi alvejado com 2 tiros, um no peito e outro na cabeça.
É de se indignar, saber que todos os dias, motoristas e cobradores, saem todos os dias de suas casas, para levar e trazer milhares de pessoas, e durante o seu trabalho, vergonhosamente sofrerem um atentado contra sua vida, devido a falta de segurança.
Fica então a pergunta: Quanto vale uma vida? R$35 , valor que foi roubado?
Segue imagem forte abaixo, do local, registrada após o assalto:
Em um grupo no Whatsapp, o assunto principal foi esse fato, e quando questionaram no grupo, que cobradores e motoristas deveriam ganhar mais pelo fato de terem uma profissão perigosa, concordei e acrescentei, falando que motoristas e cobradores ganham sim pouco, pelo trabalho importante e perigoso que realizam, esse que se formos levar em consideração as agressões verbais e algumas vezes físicas, fora os riscos de mortes, eles ganham sim pouco.
A um tempo atrás, fiz um cálculo rápido, levando em consideração o valor a passagem, a quantidade de passageiros que cabe em um ônibus, quantos voltas o veículo da em média em um dia e a quantidade média de veículos em uma linha com alta demanda, confira comigo:
15 ônibus , dentro de cada um cabe em torno de 100 pessoas em horário de pico, mais a rotatividade: são 800 pessoas em um desses 15 ônibus por dia, sendo que eles dão uma média de 8 voltas por dia, dá em torno de 12.000 pessoas por dia nesta linha. Levando em consideração que a passagem de ônibus, no seu valor inteiro é de R$2,40, e meia de R$1,20, ainda tendo em mente as gratuidades chegamos ao seguinte cálculo: 1.000 pessoas tem gratuidade, 7.000 pagam inteira, portanto pagam um total de R$16.800, e 4.000 o valor da meia, pagando um total de R$4.800, só ai temos um total de R$21.600 em um dia em um linha de alta demanda. Agora multiplique esse valor de R$21.600 pela quantidade de dias que temos em média por mês, em 30 dias a empresa terá arrecadado em uma linha que tenha uma média de 15 ônibus, o valor de R$648.000 .Digamos que a empresa pague R$148.000 só de salário para os funcionários desta linha, e concerto dos veículos, a arrecadação de um empresário chega a meio milhão.
Mas Lucas, pra que esse cálculo maluco, se estamos falando da execução injusta de um cobrador, eu NÃO REAGIU? Estou fazendo este cálculo, para mostrar a vocês uma realidade oculta, pois a morte de mais este trabalhador, que não é primeira, e nem será a última, porque não existe segurança para eles trabalharem. A arrecadação de meio milhão de uma empresa por mês, que na realidade se formos considerar 2, ou 3, ou 4 linhas este valor irá subir, e a empresa não se esforça ao mínimo para trazer segurança para estes funcionários, que são responsáveis diariamente por milhares de pessoas.
Ai se levanta uma outra questão: mas a segurança, não deveria ser feita pela segurança pública? Sim e Não! Pensem comigo: se a segurança pública tirasse uma viatura para ficar no final da linha daquele ônibus, outro lugar não iria ter proteção, fora que não há viaturas e nem homens suficientes para que isso ocorra, mas seria um caso a se pensar. Entretanto, pra que cobrar da segurança pública, se tantas mortes já ocorreram e nada fizeram para melhorar a segurança destes funcionários? Ai que entra a empresa, pois o funcionário é um bem privado da empresa, apesar de ter um trabalho público, voltado para a população, e a empresa, com sua arrecadação mensal, poderia contratar seguranças para ajudar na segurança DE SEU PATRIMÔNIO: VEÍCULOS E FUNCIONÁRIOS.
Além disso, da empresa não se preocupar com a segurança dos funcionários, estes funcionários ainda são pagos desproporcionalmente aos seus cargos, que são perigosos, muitas das vezes são ofendidos e agredidos. sofrem desconto em seus salários quando são roubados, se de tanto trepidar pelas vias esburacadas, um vidro trinca, sofrem também desconto, e por cima ainda ganham pouco: alguns 700, outros 800, alguns poucos chegam a ganhar 900 reais como salário.
Escrevo tudo isso, para que nós, da população em geral que usufruímos deste meio, comecemos a refletir na hora de xingar o motorista ou cobrador, e escrevo tudo isso também, para que a VIAÇÃO FORTE, e todas as demais empresas, comecem a pensar, a raciocinar, e ver que não é só a empresa que perde um funcionário, mais uma família que perde um filho, um filho que perde o pai, uma esposa que perde o marido, etc. Que comecem a usar do raciocínio, para trazer mais segurança para seus funcionários, seja através de empresas terceirizadas, ou contratando seguranças.
E outro ponto que gostaria rapidamente de acrescentar, é que vocês rodoviários, assim como lutam pelo aumento de salário, de ticket alimentação, lutem também por esta segurança, estou com vocês e apoio vocês, e gostaria de lembrar, que motoboys, por lei, passaram a ganhar mais, devido a um valor que passou a ser obrigado o pagamento em seu salário sem desconto, um ADICIONAL POR PERICULOSIDADE, devido o constante perigo de morte em sua profissão. Lutem para ter direito também a este valor, que salve engano é de 30% do salário mínimo, e se os empresários alegarem que não vão pagar, corram atrás, porque na minha visão, vocês tem direito sim, devido aos perigos, riscos e agressões de todos os dias.
Gostaria de deixar aqui registrado, minha tristeza por este fato, que não é isolado, e enviar minhas energias positivas para familiares, amigos e colegas de trabalho deste trabalhador paraense, que infelizmente perdeu a vida correndo atrás de seu sustento, para ajudar sua família, sustentar seus filhos e conseguir melhorar de vida. Não deixemos este caso ser esquecido, e lutemos todos juntos mediante a ocasião, para que se tenham melhorias imediatas.
Jones Siqueira, 27 anos. + 24.07.2014
